BASES TEÓRICAS

BASES TEÓRICAS
A Vitis vinifera é uma das mais antigas plantas da terra, bem antes da chegada do homem, e isso se deu na Era Terciária há mais ou menos 50 milhões de anos. A antiga e profunda origem do cultivo da videira para produção do vinho parece ter nascido em áreas da Ásia e do Cáucaso, região da Europa oriental e Ásia ocidental, onde se encontraram as primeiras marcas da domesticação da uva (PERCUSSI, 2008, p.17).
As mais antigas evidências de produção de vinho na Europa são na Grécia, que chegou do Oriente Médio, depois que tinham extinguido os vinhedos do Egito. Os Egípcios, antes dos gregos, alcançaram uma produção racional e chegaram a alcançar a fermentação da uva. Já os gregos, passaram a cultivar a uva a fim de se produzir o vinho. No caso de realmente ter sido feita de alguma forma de uma bebida alcoólica, que o homem moderno chamou mais tarde de vinho, devia ser sem dúvida de um gosto raro, com muita cor e muito tanino e com absoluta certeza não agradável para os nossos paladares (PERCUSSI, 2008, p.20).
A Bíblia relata que Noé foi o primeiro a plantar a primeira videira e o primeiro a fazer o vinho. Embora não seja uma data muito confiável, é uma hipótese a ser considerada. Os historiadores, que não podiam questionar nem confirmar os fatos e a data exatamente, estabeleceram que o vinho já fosse produzido com certas técnicas, há 10 mil anos, baseando nos fatos concretos das descobertas arqueológicas.
 O homem percebeu a importância do grande valor do vinho, os prazeres que este proporcionava e o fato de ser uma fonte de riqueza, e pensou que um simples mortal não podia ter inventado uma coisa tão extraordinária. Então, criou-se um pensamento: somente um Deus poderia tê-lo criado. Foi assim que, entre os povos antigos, surgiu Dionísio, o Deus do Vinho, logo associado à descoberta da videira e do vinho batizado assim pelos Gregos e pelos Romanos de Bacus (PERCUSSI, 2008, p.23).
                                                            Bacus Deus do Vinho
Segundo a mitologia grega, o Deus do Vinho era filho de Zeus e da bela Semele originária de Tebas. Dionísio ou Bacus, quando adulto descobriu a videira que aprendeu a cultivar e produziu vinho com o qual presenteou a todos, amigos e inimigos. Aos amigos para provocar-lhes o êxtase divino e aos inimigos para enlouquecê-los.
Com o passar dos séculos, a cultura da uva e do vinho adentrou em território brasileiro, despertando as mesmas sensações que este provocou nos povos Europeus.
Hoje o vinho produzido no Brasil, começa a desbravar uma nova fronteira que é o mercado internacional. Nos últimos cinco anos, a exportação dos vinhos nacionais cresceu consideravelmente, e a tendência é de galgar crescimento cada dia maior.
O Brasil tem ganhado espaço no ramo, foi sede de eventos mundiais de vinhos, o que contribui muito para seu conhecimento e reconhecimento. Entre outros fatores que contribuem para este crescimento estão as degustações promovidas pelo Ministério das Relações Exteriores e Embaixada do Brasil nos Países Baixos. A representante da Embaixada do Brasil nos países Baixos, Ivens Signarini aput Revista Adega (2011) afirma que “outro ponto que atrai os consumidores, é que os mesmos gostam de vinhos modernos e frutados, assim como são os brasileiros”.
A presença brasileira no exterior praticamente se limitava ao comércio de vinhos comuns, hoje mais empresas começaram a exportar e estão investindo no vinho fino e nos espumantes, que tem maior valor agregado.
Para conseguir atender a demanda, de pedidos para exportação, as vinícolas adotaram as associações como uma saída para conseguir o vinho de boa qualidade e volume. Naquele primeiro momento de funcionamento do grupo, as exportações das empresas afiliadas não tiveram êxito quanto ao lucro da atividade que hoje tem sua realidade totalmente diferente. Segundo reportagem do dia 14 de Setembro de 2007 de Marcos Pivetta, oitenta por cento das empresas participantes do WFB (Wines From Brazil) já encontraram compradores para seus rótulos em outros países, exportando inclusive para a Europa que em 2006 foi nomeada como maior mercado comprador de vinhos brasileiros produzidos pelos membros das associações. E completa que assim, o Brasil consolidou a sua posição como 5º maior produtor de vinhos do Hemisfério Sul (PIVETTA, 2007).
A produção de vinhos no Brasil nos últimos anos se alastrou até uma porção denominada como submédio Vale do São Francisco, permitindo a produção de uvas, internacionalmente reconhecidas, e com amplo espaço para exportação. Esta famosa região, na divisa de Juazeiro na Bahia e Petrolina em Pernambuco introduziu recentemente o cultivo de uvas, se comparamos com outros países da Europa, como França, Itália e outros, com aproximadamente 25 (vinte e cinco) anos de produção, conforme matéria do Globo Repórter de dezembro de 2010.
O desenvolvimento desta porção nordestina é bem explicado por Josefa Cavalcanti (1997). Segundo a autora,
O VALE DO SÃO FRANCISCO é, na atualidade, uma das regiões agrícolas mais dinâmicas do Nordeste brasileiro. Esse lugar de destaque na economia deve-se originalmente ao forte apoio recebido do Estado, a partir dos anos 70, por meio de seus projetos de desenvolvimento referentes à introdução de esquemas de irrigação estimulados pelo potencial hidroelétrico oferecido pela construção da barragem de Sobradinho e às características de sua inserção nos mercados interno e internacional (CAVALCANTI, 1997).
Segundo Tonietto e Carbonneau (1999) “a viticultura desenvolvida no Vale do submédio São Francisco possui características climáticas que a distingue do restante das regiões de viticultura tradicional de vinho em todo o mundo.” Isso se traduz em produtividade, quando respeitados os tipos de solo, clima e cultivo das diferentes espécies de uva, que se adéquam melhor a fim de se obter excelência sobre o produto. Não obstante o fato de se produzir algo com valor, como a uva e o vinho, as propriedades rurais beneficiadas pelo plantio, podem ter sua valorização aumentada em 200% a 500% em cinco anos, conforme Jorge Tonietto da Embrapa Uva e Vinho e Jaime Milan da Aprovale (2003, p.12).
Para se produzir um bom vinho os produtores estão cada vez mais preocupados com a aplicação da tecnologia de ponta, que pode ser aplicada tanto no solo, quanto ao sistema de irrigação mais eficiente para a videira, e ou no controle de pragas e insetos que possam danificar a planta.
Conforme reportagem do Globo Repórter do dia 17 de dezembro de 2010, o clima do Vale do São Francisco funciona como se existissem todas as estações do ano, ao mesmo tempo e no mesmo lugar, permitindo a produção de uvas três vezes ao ano e tornando-se o único lugar do mundo com essa primazia. Ainda conforme a referida matéria, no Submédio do São Francisco, a concentração de resveratrol chega a ser seis vezes maior que em países de climas temperados, como França e Espanha. O pesquisador da Embrapa, Giuliano Pereira, afirma que lá se consegue um enólogo conseguir produzir 30 vinhos por ano no submédio e completa, é o “milagre da caatinga”. Pernambuco e Bahia produzem sete milhões de litros de vinho por ano, uma indústria que emprega oito mil pessoas diretamente, não sem motivo que só em Petrolina a população cresceu 35%.
É importante também ressaltar a importação de maquinários de última geração para a produção de vinhos, sendo que hoje o mercado já conta com mão-de-obra qualificada para montagem, equipe especializada do sul do país. As peças usualmente importadas tem sua origem na Itália e Argentina. A rolha, sua proteção e o rótulo vem de Portugal. A principal razão de se produzir vinho no Vale do São Francisco é a qualidade do produto que tem maior valor, e muito potencial no mercado externo, conforme Canal Rural.
Nesse contexto estão as inovações tecnológicas, no auxílio às atividades de cultivo. Segundo Xavier et al,(2006), devido a variedade de solos e climas é possível utilizar-se uma gama de métodos de irrigação que adéqüem a produção das uvas, tais como: aspersão, localizado, gotejamento e microaspersão. Para o método de aspersão sua aplicação é dada por jatos de água no ar, que caem sobre a cultura na forma de chuva e é o método mais utilizado no Brasil de acordo com Testezlaf (1997). O método localizado, conforme o referido autor (1997) “aconselha utilizar esse método de irrigação em locais onde há escassez de água”, ideal para a região abrangida pelo Vale do São Francisco. Já o gotejamento, aplica as gotas d’água na base da planta ou diretamente no solo. Para finalizar, existe a microaspersão que “caracteriza-se pela aplicação da água numa fração do volume de solo explorado pelo sistema radicular das plantas, de forma circular ou em faixa contínua.”
Sabemos também que nenhum produtor no mundo consegue sobreviver ao mercado se não administrar adequadamente a sua empresa. Pensando neste aspecto salientamos que as empresas que queiram buscar os mercados internacionais, deverão se preparar internamente primeiro, através do planejamento, que, como cita Francisco Flávio de A. Rodrigues (2011), consultor e professor, da Faculdade Cândido Mendes/RJ, é um dos grandes problemas das empresas brasileiras.


REFERÊNCIAS
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CAVALCANTI, Josefa Salete Barbosa. Frutas para o mercado global. Dossiê Nordeste I. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40141997000100005& script=sci_arttext>. Acesso em: 14 março 2011.

COLLETA, Andreia Dalla. Nova tecnologia minimiza uso de agrotóxicos na uva. Vinícola Cave Geisse comemora resultados do uso de sistema de controle térmico de pestes. Disponível em:  <http://www.serranossa.com.br/editorias/economia/nova-tecnologia-minimiza-uso-de-agrotoxicos-na-uva/> Acesso em: 8 maio 2011.

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PIVETTA, Marcos. No copo dos estrangeiros. Nos últimos cinco anos, a exportação de vinhos brasileiros praticamente triplicou. Disponível em: <http://jornaldovinho.com.br/novo/?p=633>. Acesso em: 17 março 2011.
RESVERATROLBR. Globo Repórter 17/12/2010 parte 2/9 - www.resveratrol.com.br. Youtube. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=6YGywCzcvUc>. Acesso em: 13 março 2011.
RODRIGUES, Francisco Flávio de A. Administração Estratégica para a Qualidade em Serviços. Boletim Técnico do Senac. Disponível em: <http://www.senac.br/informativo/BTS/221/boltec221e.htm>. Acesso em: 13 março 2011.
TESTEZLAF, R. Irrigação na Propriedade Agrícola. UNICAMP / Faculdade de Engenharia Agrícola / Departamento de Água e Solo. n.19, agosto 1997.
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PERCUSSI, Luciano. É vinho, naturalmente! : em defesa do vinho orgânico e biodinâmico. 1 ed. São Paulo.Gaia, 2008. 159 p.
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